Photobucket - Video and Image Hosting Palimpnóia Contos PALIMPNOIA CONTOS

Zingarah

Inatingível

Pálida e nacarada, ocultava-se detrás de uma pele fina e translúcida, que quase-permitia entrever o seu âmago. Olhos enluarados, debruados de espessas pestanas flutuantes, dançavam em redor de si mesmos, buscando sombras e contornos. Adejava, mais do que se movia, espargindo olorosas ondas do perfume que seduz as abelhas, um almiscarado cheiro de verão e prenúncio de tempestade.
Suave, possuía uma qualidade única que lhe moldava o espírito, transbordando em fímbrias de coloração metálica, exibindo algo de incomum firmeza. Tecia seus momentos entrelaçando lírios e guirlandas, revolvendo a cálida terra dos canteiros. Ria, exalando o puro hálito das horas que se deixavam levar, retendo despudoradamente a essência do que lhe aprazia.
À beira do tempo permitia-se ficar, balançando-se sobre os próprios sonhos e os alheios devaneios. Possuía o cerne da maciez da carne das coisas, a floração extemporânea que viceja entre as estações, a delicadeza dos espelhos adormecidos no crepúsculo. Fluida, deixava-se restar, até não haver nada além de si mesma, só e acompanhada, inteira e partida, rebentando em botões e fermentando sob a terra, a um só tempo. Jamais tocada ou consumida, deu-se por inteiro em um só instante, veloz e definitiva, deixando atrás de si uma esteira de solidão. Em seu lugar, um jardim de folhas secas. O eco de um mundo vazio.

Zingarah publica seus escritos no Blog La Zingarah